sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Deus é pai

Sabe aquelas noites em que um ex do tempo do Ariri Pistola ressurge no msn e te faz lembrar como a tua vida está bacana agora? Pois é. A tese se confirma quando ele começa a escrever frases do tipo: “arranjei um trabalho aqui, mas axo q no meio do ano q vem vo para o parana
vc ta em brasilia ainda ??”
.

Obrigada, senhor, por este romance não ter dado certo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

É exatamente isso

“Mas foi apenas quando você me tirou para dançar no meio da sala, foi apenas quando você me conduziu bem devagar para lá e para cá, corpo colado ao meu, que entendi o que talvez seja, entre todas as coisas, a mais essencial: em você, e em mais lugar nenhum, liberdade e segurança conseguiram, finalmente, se encontrar.”

Milly Lacombe, em 'O gosto da liberdade numa tarde de segunda-feira', na TPM #101

domingo, 22 de agosto de 2010

Só leia se você é mulher e tem mais de 25

Tá, eu comecei a usar Chronos, a linha anti-rugas da Natura. E não foi porque eu fiz 26 anos, nem porque eu tenho achado a pele ao redor dos olhos meio caída, nem porque estou ficando, literalmente, para titia. Eu comecei a usar Chronos Primeiros Cuidados, para mulheres com mais de 25 anos, porque 1) ganhei o pote de creme de presente de uma amiga no meu aniversário; 2) tenho tempo pra isso. Todos os dias, antes de dormir, além de lembrar e esquecer como foi o dia, eu: 1) tiro a maquiagem; 2) passo uma loção de limpeza no rosto com algodão e, enfim, 3) aplico o Chronos. Ou seja, tenho tempo, né?

Mas a questão é que, de primeira, não foi fácil. Eu nunca tinha ido até o espelho para, de camisola, passar um creme anti-rugas. Nunca tinha me olhado no espelho daquele jeito, pensando em como as coisas estarão daqui a dez anos – mais precisamente, como o meu rosto estará. É difícil começar a sentir na pele que o tempo está passando, sabe? Dramas à parte, era preciso dar o primeiro passo. Eu vou ficar velha, então que seja da melhor maneira, com a cara o menos amassada possível, pensei.

Dei início ao ritual e constatei que anti-rugas são, sim, fedorentos; e que, sim, fazem efeito em pouco tempo (duas semanas e a minha pele já estava outra!). Levou mais alguns dias para que eu enfim aprendesse a passar o creme sem projetar a próxima década nos mínimos detalhes antes de dormir. Um dia de cada vez, Débora Cruz! E com a pele devidamente cuidada!

É claro que não é negócio correr atrás da juventude a toda hora, mas começar a se cuidar, a tratar decentemente a pele, a beber menos (sim!) e a aumentar a quilometragem percorrida na esteira faz bem para a casca e para a alma. Talvez essa seja uma fase careta que vai passar. Talvez eu desista no segundo mês. Talvez eu case em 2011, engravide de gêmeos e não tenha mais tempo para essas coisas nem para escrever em blog. Sei lá.
Por enquanto, há tempo de sobra.
É a parte boa da vida das solteiras expatriadas.

*este post não foi pago pela Natura

Marca-páginas feminino

Existem certos momentos de felicidade para os quais fomos preparadas desde sempre, principalmente os relacionados à paixão. Lá no fundo tinha-se a sensação de que um dia eles chegariam, de preferência sem pedir licença, arrebatamento puro. E de fato, mais cedo ou mais tarde, topa-se sem aviso com a felicidade materializada em corpo masculino, numa esquina qualquer da cidade grande. A vida ao lado dele fica meio montanha-russa, meio roda-gigante, euforia e contentamento, quase completa, quase total. E a quase-completude tem tudo a ver com a felicidade, ao menos é o que sempre ouvi por aí. Só que ninguém fala das conseqüências maléficas que as experiências felizes trazem consigo. Duas delas, na minha opinião, são bem problemáticas:
- Tento vivido algo tão mágico, passa-se a conviver com a idéia de que dificilmente se viverá algo tão mágico de novo, porque um raio até cai duas vezes no mesmo lugar, mas as chances são infinitamente pequenas.
- Ao menor sinal que remeta à experiência feliz, aquele sentimento há tempos esquecido, sufocado, reprimido, virá à tona imediatamente. E perturbará o pensamento ao longo de um dia inteiro, talvez até uma semana. Pode ser uma música, a trilha sonora de um filme. Pode ser chocolate quente no domingo. Involuntariamente, aquela saudade doída do que realmente foi bom tomará conta da mente, do corpo, do todo.
Parece que, no caso das mulheres, o acúmulo de experiência joga contra a felicidade.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Falso brilhante


Férias podem começar com atrasos de dez horas em vôos; o tempo correndo em saguões lotados de aeroportos frios; gente a te esperar.
Férias podem te deixar com saudade do trabalho, da rotina segura e previsível, do nervosismo do fechamento. Saudade de bater o ponto e ir ao encontro do edredom fofo.
Férias podem te fazer pensar que a escolha mais apropriada não foi feita. E junto vem o alento de que na próxima vez vais acertar.
Férias não recuperam a troca de afeto interrompida pela distância. Convivência é dia-a-dia compartilhado; é domingo com churrasco e maionese; é a pasta de dente que acabou. Não é Skype.
Férias não resolvem problemas familiares; não são suficientes para que a gente consiga matar a saudade do feijão da mãe, do churrasco do irmão, das brincadeiras do vô, do frio, da combinação de três cobertores, do chuveiro a gás.
Férias não dão vida a grandes amores. Às vezes até fazem a gente lembrar com saudade dos pequenos. Muitas vezes nos obrigam a repensar os planos, a prometer não fazê-los mais.
Férias potencializam a adoração por plátanos, por vinho, por música boa tarde da noite.
Férias, mesmo as longas, são sempre curtas, assustadoramente curtas, desesperadamente curtas. Tão curtas que doem. E como dói a vida, para quem espera por esses momentos curtos para viver tudo que dá.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pulando a fogueira

Desde pequena me encho de alegria e caio em desespero com a chegada do mês de junho. Alegro-me porque é o mês do meu aniversário – e antes dos 30 a gente costuma achar isso leal. E desespero-me porque é o mês das festas juninas. O fato é que desde o tempo do Ariri Pistola as pessoas adoram juntar as duas coisas, ou seja, transformar o meu aniversário em um grande arraial, com bandeirinhas coloridas, quentão, rapadura e puxa-puxa. Vai por mim: o povo adora pular fogueira.


Lá no início da década de 90, quando eu ainda achava isso tudo divertido, minha mãe, entusiasta das comemorações juninas, preparou uma festinha típica no meu aniversário. Tudo bem se uma priminha desavisada não tivesse chegado ao evento vestida suuuuper a caráter, pintinhas pretas desenhadas na bochecha com lápis de olho e tudo mais. Percebendo que todas as outras crianças usavam roupas normais, a menina se trancou no quarto e abriu o berreiro. Numa atitude solidária - e para contornar o impasse -, mamãe propôs que eu e uma amiguinha colocássemos o traje caipira. Aí deu nisso (pra quem não sabe, eu sou a da direita):


É lógico que o trauma da prima passou pra mim. E eu só consegui ceder à pressão de um aniversário-arraial novamente em 2008. Todo mundo andava choramingando que ainda não tinha ido a nenhuma festa junina. Dia sim, dia também, as indiretas se multiplicavam: “nunca mais tomei quentão”, “saudades de comer paçoquinha”. Até que as amigas partiram para as diretas: “eu faço o molho do cachorro quente!”, “eu levo os amendoins caramelizados!”. Sim, era hora de fazer a vontade do povo. Então reuni o pessoal no salão de festas do prédio e cada um levou um prato. Não teve fogueira, mas foi bonitinho (e eu melhorei com o tempo, gente!):





No próximo sábado vou soprar velinhas de novo. Sem festa junina, porque a minha missão na Terra eu já cumpri. Mas volta e meia, quando a data está próxima, eu lembro do episódio da prima, ocorrido lá no século passado. E penso: pena a gente naquela época não entender que ser – ou estar – diferente dos outros não é motivo para envergonhar-se. Pena a mãe ter precisado ativar um plano de emergência (e pena alguém ter batido aquela foto, Jesus!). Com o acúmulo de primaveras, vem a certeza de que a fogueira não é para todos. E que chorar não tá com nada. Tudo é transitório nesta vida. Mesmo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Tudo coisa que tu já sabe

Sabe aquele restaurante perto do Lago que a gente ia sempre? Fechou.
Sabe aquele lenço charmoso que tu me deu de presente porque achou a minha cara? Uso sempre. Acho até que já gastou.
Sabe aquele meu projeto de aprender italiano? Não toquei.
Sabe aqueles arranhões que tinha na porta do carro? Mandei polir e agora parece novo.
Sabe a minha renite sem solução? Não existe mais.
Sabe aquele rabo-quente xumbrega que eu usava para esquentar a água do chimarrão? Joguei fora porque ganhei uma jarra elétrica.
Sabe aquele livro do Gay Talese que comprei na promoção? Ainda não li.
Sabe aquele caminho pelo qual eu não me arriscava dirigir? Agora o percorro para chegar ao trabalho.
Sabe aquela tua foto que eu guardava na gaveta? Tá lá. Ainda. É.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

Roteiro requentado


Ele vai falar que há tempos não sentia algo assim e que gosta do teu jeito de enganar a timidez mexendo no cabelo. Vai dizer que andava procurando uma pessoa como você. Que tá difícil encontrar mulheres interessantes por aí, que teve sorte desta vez. Vai te apresentar para os amigos num churrasco de domingo, dando a entender que esta será a primeira confraternização de muitas. Batalhará pela integração de todos, pela formação de um grupo de amigos em comum.
Ele vai cozinhar pra ti. Vai escolher um prato refinado, mas nem tanto, porque a simplicidade é a alma do negócio. E vai impressionar pela combinação perfeita dos ingredientes, dos temperos. Pela desenvoltura na cozinha. Pelo sabor final. Vai te oferecer cerveja extra ou vinho chileno. Depois vai te chamar a conhecer os lençóis bem passados daquela cama que outra já ocupou. Vai lembrar dela. Vai esquecê-la em seguida.
No fim de semana ele vai te levar ao cinema e depois a um passeio no parque, com direito a pipoca salgada comprada da carrocinha e brigadeiro naquele café charmoso, como tantas vezes fez com ela. Vai demonstrar interesse em conhecer a tua história de vida, conversando sem pressa. Vai contar episódios da infância no interior com verdade nos olhos, das férias no litoral, das viagens pela Europa na adolescência e pela América Latina nos tempos da faculdade. De como virou um cara independente e de opiniões próprias. Vai te mostrar o quanto estudou, o quanto leu. Ele vai te chamar para viajar no feriado. Vai colocar fogo na lareira e Chico Buarque no dvd. Vai lembrar dela. Vai esquecê-la em seguida.
No Dia dos Namorados ele vai te surpreender com flores amarelas em vez das vermelhas, com um cd do Milton Nascimento, com uma visita inesperada no meio do expediente. Na semana seguinte vai te apresentar à família, num jantar descontraído. Atitude que mostra boas intenções. Foi assim com ela. Vai ser assim contigo.
E quando chegar a época de programar as férias, ele vai propor um tour pelo Leste Europeu. Vai resgatar aquele guia de viagens que ganhou de presente dela no dia do aniversário. Vai fingir que ele mesmo comprou o livro, numa promoção da Saraiva. Vai te fazer sonhar com a viagem, com ele, com um apartamento de três quartos perto do parque, com filhos de olhos claros. Foi assim com ela. Vai ser assim contigo.
Ele vai te mostrar a alegria de uma vida a dois, com cafés da manhã na cama e domingos arrastados lendo o jornal juntos. Vai simular que é a primeira vez, para não admitir o óbvio: já viveu tudo isso antes, exatamente assim, com ela. Até pediu aos céus que nunca chegasse ao fim. Só que um dia acordou e a cama estava vazia.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Trocaria tudo por uma memória ruim

Tem noites em que me dá uma vontade louca de dormir esquentando o meu pé no teu. Até esqueço o meu egoísmo crônico, que tantas vezes me faz encontrar a alegria plena apenas na solidão. E tem manhãs em que a saudade do teu jeito de me acordar faz eu odiar a minha memória boa para assuntos nossos. Chego a sentir o cheiro de café-passado-na-hora e dá pena de colocar a água no fogo para preparar um mate que será sorvido por mim. A vida me acorda e dispara de novo aquela certeza ingrata: uma pessoa que está sempre revendo as escolhas é uma pessoa boba. Bem boba.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Manteiga de garrafa e Guaraná Jesus

Morar longe, além de ter um certo charme, possibilita presentear as pessoas queridas com coisas exóticas. E, nesse ponto, viver no Cerrado e conviver com nordestinos só tem vantagens. Aprende-se na marra que o Brasil é beeeem maior do que o bairrismo do Sul nos permite imaginar. Que charque não é a mesma coisa que carne seca, que não é a mesma coisa que carne de sol. E como come carne de sol essa gente, deusdocéu...

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Conhecimento processado, começam a surgir idéias para surpreender os conterrâneos. Na minha próxima ida ao Rio Grande, por exemplo, pretendo colocar na mala frutas de nome estranho. As novidades vão fazer a alegria da família, muito mais do que a minha presença. Acredite.

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São fortes candidatas a viajarem embaladas entre as minhas roupas exemplares de lichia, umbu, cajá, siriguela, pitomba e sapoti. Cupuaçu é bacana, mas ocuparia muito espaço. Não vai rolar.

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Como as passagens aéreas andam caras e a minha ansiedade é meio séria, tive a sacada de mandar coisinhas diferentes para os parentes por meio das visitas que recebo. Abaixo está uma conversa minha no msn com o meu sobrinho. Vê só como eu acertei:

Marcos Schulz , diz:
o Dé
meu pai mando agradece pela manteiga
ele adoro
ele poe junto com pimenta
e come todo dia
LKMASDKMASDLKMA
Débora diz:
hahahahahahahah
ele já conhecia?
Marcos Schulz , diz:
não
:
:D
Débora diz:
que bom!
Marcos Schulz , diz:
ele adoro
nao deixa ninguem chegar perto do vidro
pq vai que quebra
alskmdlaksmdlakmsd
Débora diz:
diz pra ele procurar umas receitas na internet. essa manteiga é bastante usada no nordeste!
Marcos Schulz , diz:
tá :D
Débora diz:
se ele gostou, é porque é bom mesmo!
Marcos Schulz , diz:
bah
ele adoro
ele poe uns pedaço de pimenta
que ele tem
com a manteiga
e meche
dai ele bota
em tudo que é comiga
comida
até no arroz
alskmdalskmd
Débora diz:
tô morrendo de rir!!!!!!!!!
e tu gostou do guaraná jesus?
Marcos Schulz , diz:
asdlkamsdlkmasdlmalskmdlaksmdlakmsdlkamsdlkmasldkmasldkmasldkm
nem provei ainda
nao tive coragem
Débora diz:
hahahahahaha
dá medo, né?
mas tu viu que é da Coca-Cola?
esse guaraná é tri famoso no maranhão
Marcos Schulz , diz:
sun :D
não
eu to com pena
to em duvida se eu tomo
ou boto
de enfeite
lkamsdlkamsd
Débora diz:
ah, toma e guarda a lata
Marcos Schulz , diz:
é mesmo :P
Débora diz:
ah, diz pro junior que a mateiga fica muito boa com aipim cozido
Marcos Schulz , diz:
tá :D
ele vai gosta
pq ama aipim
alskmd
Débora diz:
hahahahhahaha
Marcos Schulz , diz:

haha
Débora diz:
sempre vou mandar alguma coisa de comer para o gordinho. aí não tem erro. :P
Marcos Schulz , diz:
:P:P:P

Para quem nunca viu, aqui está o visú do Guaraná Jesus.


ME-DO!

domingo, 4 de abril de 2010

Cada cidade com a sua alma (ou Porto Alegre me dói)

Houve um tempo em que Brasília era para mim a cidade onde surgiu a Legião Urbana, e Porto Alegre a cidade onde eu ia ao médico, comprava roupas e buscava eventualmente um parente no aeroporto. Tempo distante esse, por sinal.

Falo disso porque há uma semana estive em Porto Alegre para visitar a família – participei das comemorações do aniversário da minha irmã, matei um pouco a saudade do meu apartamento de paredes coloridas, coloquei os espirros em dia devido à umidade de sempre – e chorei. Chorei copiosamente. Chorei como nunca. Chorei com mais alma do que em qualquer outra ocasião.

Comecei a virar um drama ambulante quando dirigi sozinha pelos bairros nos quais costumava beber cerveja barata ouvindo as melhores histórias/opiniões/julgamentos vindos de amigos de valor incalculável; quando cruzei as ruas nas quais deixei histórias de amor mal-resolvidas, bem resolvidas e as nunca realizadas; o posto de gasolina onde buscava cerveja quando chegava do trabalho sem sono; a esquina que não gostava de cruzar porque temia encontrar aquele ex que ficou lá atrás. Pedacinhos de mim naquele asfalto de baixa qualidade que os porto-alegrenses conhecem bem.

Porto alegre virou a minha cidade quando eu tinha 20 anos e dividia um JK no Bom Fim com a minha irmã. Não, não é meu objetivo mostrar como a minha vida é feita de histórias de superação. A frase que inicia este parágrafo é para dizer que a vida não era perfeita, mas tinha um pouquinho de felicidade em quase tudo (principalmente no Xis da Lancheria do Parque e no petit gateau da Cronk’s).

Na capital federal, onde moro há quase 1 ano, o asfalto é perfeito, outdoors são proibidos e o clima seco me poupa dos 127 espirros diários que eu dava no Rio Grande do Sul. Não há felicidade em quase tudo, mas há conforto, trânsito suportável, segurança, muito sol e um céu azul que parece ter sido desenhado pelo Oscar Niemeyer.

Para o Renato Russo, Brasília foi cenário dos primeiros amores, desamores e acordes. Para mim, é a cidade onde eu trabalho, onde enfim tenho fins de semana dedicados ao ócio. Nunca será Porto Alegre, nunca terá domingos ensolarados de inverno, com cheiro de churrasco ao meio-dia. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E o consolo possível, por ora, é o seguinte: eu também não tenho mais 20 anos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Como morrer de saudade num domingo à noite

Me diz se dá para segurar o choro ao receber esta foto pelo MSN:


mana Lu entre conchinhas na Lagoa dos Patos

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Nossa história na prateleira

Se eu tive uma amiga na infância foi a Juliana Arend. Amiga mais que amiga. Daquelas que a gente sabe o que a outra está pensando, compartilha bonecas, conhece a família, vira presença obrigatória nos aniversários. Era um vínculo afetivo como pouco se vê por aí. Amizade bonita mesmo. Só que um dia, já crescidas, nós resolvemos nos apaixonar pelo mesmo cara. E a amizade virou pó. Mais de dez anos depois, eu me pergunto: por que nunca conversamos a respeito? Por que nunca pedimos desculpas? Por que nunca voltamos a falar? Por que não nos unimos para quebrar a cara daquele babaca? Não sei. Juro que não sei. Só sei que hoje me deu vontade de lembrar da Juliana.

Nós grudamos uma na outra no Jardim de Infância. Morávamos na mesma rua, a Marcos de Andrade. O percurso até a escola, cerca de 10 minutos, era feito a passos apressados, entre brincadeiras e gargalhadas. Fazíamos o tema de casa juntas, assim como os trabalhos de história. Lembro que ela era inteligentíssima, a alegria dos professores, só 10 no boletim. Eu às vezes tirava algum 9,5. Ela jamais.

Nós duas freqüentávamos a mesma academia de ginástica. Na verdade, acho que era a única academia da cidade na época. E como as aulas de dança não nos satisfaziam, costumávamos ensaiar as coreografias em horário alternativo, fora da academia. Éramos duas loucas mirins saracoteando sem parar, com som alto, quase sempre na casa dela. A Juliana volta e meia ficava sozinha em casa. Eu não.

A certa altura do primeiro grau, ela foi estudar em outra escola. Eu chorei um semestre inteiro e fui obrigada a fazer amizade com meninas de grupos rivais. Comecei a pedir para ir a reuniões dançantes. Dei o primeiro beijo na boca. E minha mãe, temendo o pior, decidiu que eu também deveria mudar de colégio. Lá fui eu, estudar com a Juliana de novo.

No primeiro dia de aula, saquei que a Juliana tinha feito novas amizades, integrava um novo grupeto. Fiquei triste. Murchei. Os tempos eram outros, percebi. Começamos a ir e voltar da escola juntas novamente, desta vez com outras vizinhas. A amizade renasceu em poucos dias. De repente eu também era parte do grupeto.

Prafrentex, a Juliana tentava engatar um namoro com um colega. Já tinham ficado sete vezes, tudo devidamente anotado na agenda, o papel do chiclete que ele mascou preso com um clips. Achei o menino meio feio, meio dentuço, mas não me meti. Problema dela.

De uma hora para outra, o menino não quis mais ficar com a Juliana. Ela, por sua vez, foi acometida por uma fossa juvenil muito séria. E foi nessa época que nós duas voltamos a passar as tardes juntas, na locadora de videogame da mãe dela. Era a Juliana quem tomava conta do local à tarde, enquanto a mãe trabalhava em outro lugar. Bons tempos aqueles de chocolate e papos desimportantes na locadora.

Sabe-se lá como, acabei ficando amiga do colega que deu um fora na Juliana. Amiga mesmo. Cada vez mais amiga. Muito amiga. Amigoooona. Até que ele se declarou apaixonado por mim, pelos meus olhos verdes, pelo meu jeito excessivamente tímido e blábláblá. Corri para a locadora e contei tudo para a Juliana. Ela engoliu a raiva e me disse, cerrando os dentes: "Amiga, fica com ele, eu faria o mesmo". Pronto, começava ali o primeiro namoro de Débora Cruz, com o cara meio feio, meio dentuço. A história durou um mês e meio, acho. A amizade com a Juliana, no entanto, nunca mais foi a mesma.

Ela foi morar em um bairro distante. Eu continuei na Marcos de Andrade. Ela ficou grávida. Eu fui estudar na capital. Um dia, nos cruzamos na rua e não nos cumprimentamos. E foi assim nas muitas outras vezes em que o acaso nos colocou a poucos metros de distância.

Há pouco mais de um ano, nos encontramos sem querer em uma festa. Ela fazia as vezes de ajudante de uma fotógrafa. Trocamos meia dúzia de palavras, por iniciativa minha. Ela contou que teve mais dois filhos. Que o terceiro foi “um acidente”. Eu me despedi com um “bom te ver”, dito com receio de que parecesse pouco verdadeiro. Acho que pareceu.

Agora eu estou em Brasília; ela, em Guaíba, três filhos e um marido. A mais velha tem oito anos, o Orkut me contou. Pena ela não saber que, ainda hoje, eu lembro das tardes de dança, das nossas coreografias finalizadas com espacato (exibidas!), das confissões na locadora, dos trabalhos de escola em que nos esmerávamos ao máximo para tirar 10. Sempre juntas. A Juliana, tão distante da minha realidade atual, é peça chave da minha história; é referência afetiva. E eu espero que na vida dela também tenha ficado um pouco de mim. Um pouquinho já é muito.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Vá a Pirenópolis (depois de conhecer Brasília)

Tenho defendido a tese de que todo mundo precisa, um dia na vida, ir a Brasília. Para conhecer o Congresso Nacional em uma visita guiada e sentar na cadeira de um deputado, no plenário da Câmara; para tirar fotos em frente ao Palácio da Alvorada, onde reside o nosso querido amigo Lula, rindo da pose estática do “Dragão da Independência” que faz a guarda; para rodar pelas tesourinhas até ficar tonto e concluir que não é fácil se achar em uma cidade planejada; para andar de barco no Paranoá, sem dúvida o lago mais fake e também um dos mais bonitos do Brasil, e cantarolar “eu sou surfista...”; para amar e odiar o Oscar Niemeyer e o Lucio Costa.


Brasília é o tipo da cidade que só entende quem conheceu e só gosta quem já morou nela. Às vezes parece Washington, e na maior parte do tempo não se parece com lugar algum. Mas tudo faz sentido quando toca um clássico da Legião Urbana no rádio, principalmente aquela música que diz: “eu rabisco o sol que a chuva apagou”, porque chove durante o verão inteiro. Sério.


Depois que a gente se acostuma com a singularidade urbanística da capital federal e com os nomes criativos das cidades-satélites (Candangolândia, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia), é hora de conhecer o Goiás (com artigo masculino, como dizem os nativos). Um estado que, para a minha surpresa, tem muito mais do que lavouras de soja e duplas sertanejas a oferecer. A começar por Pirenópolis. Distante 140 quilômetros de Brasília, a cidade já serviu de cenário para novela global. Alguém aí lembra de “Estrela-Guia”, com a muito expressiva Sandy no papel principal? Pois é. A trama se passava em Piri. Não que esta informação seja vital... enfim.


Trata-se de uma cidade pequena, média de 20 mil habitantes, localizada na Serra dos Pirineus, com centro histórico conservado ao extremo e ruas de pedra. Rodeada por cachoeiras, tem clima zen, bares charmosos e um artesanato local de fazer até eu abrir a mão. Só não tem gente bonita, mas esse é um problema crônico de todo o Centro-Oeste.


Com suas construções em estilo colonial, seus festivais de jazz e festas religiosas, seus garimpos desativados, Pirenópolis é o paraíso do ex-bicho-grilo, aquele que olha para a barraca guardada na parte de cima do ropeiro, sente saudades, mas não titubeia quando lhe perguntam se prefere ficar em um hotel. Muito tomou Antártica em copo de plástico, mas agora prioriza cerveja extra.


Em Piri, há comida típica goiana (fuja do tal pequi), igrejas construídas em mil setecentos e alguma coisa, restaurantes simples, outros nem tanto, trilhas e cachoeiras a serem vistas durante o dia e uma tal de “Rua do Lazer”, para a qual os boêmios se dirigem à noite. Na minha opinião, é programa para três dias. E vai por mim: volta-se para casa energizado, pensando na próxima ida.



Serviço

Onde ficar:

Pousada Vila Colonial, na Rua da Cruz
Fone: (62) 3331-1930 / 9923-3021
Preço honesto para os parâmetros da cidade: R$ 150 a diária para duas pessoas em alta temporada. Não tem luxo, mas é aconchegante e perto de tudo. Estacione o carro e saia a pé. Kika, a dona da pousada, indica bons passeios.

Onde beber:
Percorra a Rua do Lazer e escolha o seu bar. À tardinha já estão todos abertos.

Onde comer:

Há boas opções, da comida típica local até pizza no forno a lenha. Os preços não são exorbitantes. Não deixe de provar o “empadão goiano”, uma espécie de “xis tudo” em formato de empada. Custa em média R$ 6,00.

Onde comprar:

Gurias, levem uma grana extra só para gastar na feirinha da praça. Artesanato criativo e de qualidade, saias e batas de enlouquecer.

Onde trilhar:
Só posso indicar a Cachoeira do Lazáro, porque foi a única que conheci (uma é suficiente, né?). Integrou as gravações da novelinha da Sandy e o acesso é tranqüilo. Nível básico de dificuldade: qualquer um chega após pagar R$ 15 e andar uns 25 minutos no meio do mato. Vale o esforço.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Preciso te contar que

Mãe, onde está você, que não me liga mais?
Puxa...
Não te vejo online.
¿Que pasa?
Preciso te contar que o pneu do carro furou em uma estrada de Goiás. Que descobri que não tenho macaco. Que o capanga de uma fazenda foi quem me salvou. Ele tinha um macaco compatível e trocou o pneu. Gentil o capanga.
Na segunda-feira resolvi tudo. Comprei pneu novo. Gastei R$ 80 na borracharia e R$ 60 na autopeças. Agora tenho um macaco novíssimo e chave. Vou ter pena de usar. Ah, o estagiário lá da redação foi quem indicou o borracheiro. Lembra que eu te falei que agora tenho um estagiário que já cantou no Ídolos? Sensacional o guri.
Outra coisa: hoje de manhã saí de casa para ir ao trabalho e o carro não ligou. Tive que pegar ônibus, atrasada, lógico. Irritadíssima, bem ao teu estilo. E gripada, porque desde quarta-feira um vírus desgraçado tomou conta do meu corpo. Mas não te preocupa, mãe. Não é nada grave. Ainda não estou produzindo secreções amareladas. Espirros e nariz congestionado até agora e só. Para os padrões do meu aparelho respiratório, tu sabe que isso é lucro.
Bom, voltando ao carro, que não ligou. O cara do seguro disse que tinha “afogado”. Tá, nós duas não sabemos o que isso significa. O importante é que ele “desafogou” o carro. Aproveitei e pedi a indicação de um mecânico bom, já que quero resolver aquela história de ter que colocar água no radiador toda vez que vou ao posto de gasolina. Aposto que isso é um problema ou o início de um problema. O cara do seguro me deu razão. Legal o cara.
Também preciso te contar que vou gastar uma nota no Carnaval. Viajarei com uma amiga. Será histórico. Dou mais detalhes depois, a fim de te deixar sem tempo hábil para dizer que estou jogando dinheiro pela janela.
Tenho pensado sobre a minha próxima ida a Porto Alegre. Precisamos falar a respeito.
A vida pessoal continua aquela bagunça, melhor não falar a respeito.
Vê se entra no skype.

Saudades de todos, mais do que nunca.

Um beijo,
Débora.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ele foi com ela no médico

Ele foi com ela no médico. Era sexta-feira, fim da tarde de um dia abafado. Quase todo mundo saindo apressado do trabalho, tendo como destino a rua, a casa, o bar. Ele poderia estar fazendo qualquer outra coisa em vez de ir com ela no médico, inclusive nada. Mas achou importante acompanhá-la, não deixa-la sozinha, dirigir até o consultório conversando sobre como foi o dia. Sabia que ela estava nervosa. Sabia que ela se sentiria sozinha caso estivesse sozinha naquela hora. E muitas vezes ela de fato se sentia sozinha, mas não falava. Ele foi com ela no médico porque sabia que ela queria companhia, porque gostaria que futuramente ela fizesse o mesmo, em uma situação difícil qualquer. Foi com ela no médico para que ela se sentisse protegida, para sentir que estava protegendo alguém; ela. Falaram sobre amenidades no caminho. Erraram a quadra. Riram um do outro. E quando enfim encontraram o endereço ela teve vontade de chorar. O médico poderia dar qualquer notícia, a pior de todas. Nada importava. Aquele abraço forte que ele lhe deu parecia ter o poder de combater o mundo.