domingo, 4 de abril de 2010

Cada cidade com a sua alma (ou Porto Alegre me dói)

Houve um tempo em que Brasília era para mim a cidade onde surgiu a Legião Urbana, e Porto Alegre a cidade onde eu ia ao médico, comprava roupas e buscava eventualmente um parente no aeroporto. Tempo distante esse, por sinal.

Falo disso porque há uma semana estive em Porto Alegre para visitar a família – participei das comemorações do aniversário da minha irmã, matei um pouco a saudade do meu apartamento de paredes coloridas, coloquei os espirros em dia devido à umidade de sempre – e chorei. Chorei copiosamente. Chorei como nunca. Chorei com mais alma do que em qualquer outra ocasião.

Comecei a virar um drama ambulante quando dirigi sozinha pelos bairros nos quais costumava beber cerveja barata ouvindo as melhores histórias/opiniões/julgamentos vindos de amigos de valor incalculável; quando cruzei as ruas nas quais deixei histórias de amor mal-resolvidas, bem resolvidas e as nunca realizadas; o posto de gasolina onde buscava cerveja quando chegava do trabalho sem sono; a esquina que não gostava de cruzar porque temia encontrar aquele ex que ficou lá atrás. Pedacinhos de mim naquele asfalto de baixa qualidade que os porto-alegrenses conhecem bem.

Porto alegre virou a minha cidade quando eu tinha 20 anos e dividia um JK no Bom Fim com a minha irmã. Não, não é meu objetivo mostrar como a minha vida é feita de histórias de superação. A frase que inicia este parágrafo é para dizer que a vida não era perfeita, mas tinha um pouquinho de felicidade em quase tudo (principalmente no Xis da Lancheria do Parque e no petit gateau da Cronk’s).

Na capital federal, onde moro há quase 1 ano, o asfalto é perfeito, outdoors são proibidos e o clima seco me poupa dos 127 espirros diários que eu dava no Rio Grande do Sul. Não há felicidade em quase tudo, mas há conforto, trânsito suportável, segurança, muito sol e um céu azul que parece ter sido desenhado pelo Oscar Niemeyer.

Para o Renato Russo, Brasília foi cenário dos primeiros amores, desamores e acordes. Para mim, é a cidade onde eu trabalho, onde enfim tenho fins de semana dedicados ao ócio. Nunca será Porto Alegre, nunca terá domingos ensolarados de inverno, com cheiro de churrasco ao meio-dia. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E o consolo possível, por ora, é o seguinte: eu também não tenho mais 20 anos.

3 comentários:

  1. Nem sei o que te dizer... Queria te dar um abraço bem forte agora!
    Nossas lágrimas não serão em vão. E se forem, pelo menos saberemos que ainda somos cercadas de emoção.

    Saudade.

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  2. Agora entendi (e só agora) que a nossa ex-vida já é passado. Porto Alegre é para mim poder caminhar até as pessoas queridas, conversar, discutir um futuro que era tão incerto... mas que agora chegou.
    Saudades de vocês, gurias.

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  3. Trombei com seu post navegando aqui e ali, de Twitter em Twitter, liga daqui, solta dali. O texto desse post me fez lembrar quando sai de casa e morei durante cinco anos em Belo Horizonte. Até hoje, não consegui contabilizar direito aquela fase da vida. Fiz amigos, perdi meu pai e um irmão de criação em curto espaço de tempo. Achei legal o seu texto, porque você, melhor do que eu, consegue fazer uma contabilidade razoável do que é estar em solo estrangeiro. Coragem, audácia, ausência dos dois. Não sei. Até hoje não consegui saber direito o que foi aquilo que passou em minha vida durante quase cinco anos. Olhos para trás e não sei se estava sob efeito de um grande alucinógeno, se tudo aquilo foi um sonho ou se realmente aconteceu. Hoje, de volta ao mar onde me criei, ele me acalenta enquanto respiro fundo para contar os números que insisto em colocar debaixo do tapete. Acompanharei seu blog, "guria". Acompanhar-te-ei no Twitter. A tout l'heur!!!

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