terça-feira, 15 de junho de 2010

Pulando a fogueira

Desde pequena me encho de alegria e caio em desespero com a chegada do mês de junho. Alegro-me porque é o mês do meu aniversário – e antes dos 30 a gente costuma achar isso leal. E desespero-me porque é o mês das festas juninas. O fato é que desde o tempo do Ariri Pistola as pessoas adoram juntar as duas coisas, ou seja, transformar o meu aniversário em um grande arraial, com bandeirinhas coloridas, quentão, rapadura e puxa-puxa. Vai por mim: o povo adora pular fogueira.


Lá no início da década de 90, quando eu ainda achava isso tudo divertido, minha mãe, entusiasta das comemorações juninas, preparou uma festinha típica no meu aniversário. Tudo bem se uma priminha desavisada não tivesse chegado ao evento vestida suuuuper a caráter, pintinhas pretas desenhadas na bochecha com lápis de olho e tudo mais. Percebendo que todas as outras crianças usavam roupas normais, a menina se trancou no quarto e abriu o berreiro. Numa atitude solidária - e para contornar o impasse -, mamãe propôs que eu e uma amiguinha colocássemos o traje caipira. Aí deu nisso (pra quem não sabe, eu sou a da direita):


É lógico que o trauma da prima passou pra mim. E eu só consegui ceder à pressão de um aniversário-arraial novamente em 2008. Todo mundo andava choramingando que ainda não tinha ido a nenhuma festa junina. Dia sim, dia também, as indiretas se multiplicavam: “nunca mais tomei quentão”, “saudades de comer paçoquinha”. Até que as amigas partiram para as diretas: “eu faço o molho do cachorro quente!”, “eu levo os amendoins caramelizados!”. Sim, era hora de fazer a vontade do povo. Então reuni o pessoal no salão de festas do prédio e cada um levou um prato. Não teve fogueira, mas foi bonitinho (e eu melhorei com o tempo, gente!):





No próximo sábado vou soprar velinhas de novo. Sem festa junina, porque a minha missão na Terra eu já cumpri. Mas volta e meia, quando a data está próxima, eu lembro do episódio da prima, ocorrido lá no século passado. E penso: pena a gente naquela época não entender que ser – ou estar – diferente dos outros não é motivo para envergonhar-se. Pena a mãe ter precisado ativar um plano de emergência (e pena alguém ter batido aquela foto, Jesus!). Com o acúmulo de primaveras, vem a certeza de que a fogueira não é para todos. E que chorar não tá com nada. Tudo é transitório nesta vida. Mesmo.