quarta-feira, 28 de abril de 2010

Trocaria tudo por uma memória ruim

Tem noites em que me dá uma vontade louca de dormir esquentando o meu pé no teu. Até esqueço o meu egoísmo crônico, que tantas vezes me faz encontrar a alegria plena apenas na solidão. E tem manhãs em que a saudade do teu jeito de me acordar faz eu odiar a minha memória boa para assuntos nossos. Chego a sentir o cheiro de café-passado-na-hora e dá pena de colocar a água no fogo para preparar um mate que será sorvido por mim. A vida me acorda e dispara de novo aquela certeza ingrata: uma pessoa que está sempre revendo as escolhas é uma pessoa boba. Bem boba.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Manteiga de garrafa e Guaraná Jesus

Morar longe, além de ter um certo charme, possibilita presentear as pessoas queridas com coisas exóticas. E, nesse ponto, viver no Cerrado e conviver com nordestinos só tem vantagens. Aprende-se na marra que o Brasil é beeeem maior do que o bairrismo do Sul nos permite imaginar. Que charque não é a mesma coisa que carne seca, que não é a mesma coisa que carne de sol. E como come carne de sol essa gente, deusdocéu...

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Conhecimento processado, começam a surgir idéias para surpreender os conterrâneos. Na minha próxima ida ao Rio Grande, por exemplo, pretendo colocar na mala frutas de nome estranho. As novidades vão fazer a alegria da família, muito mais do que a minha presença. Acredite.

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São fortes candidatas a viajarem embaladas entre as minhas roupas exemplares de lichia, umbu, cajá, siriguela, pitomba e sapoti. Cupuaçu é bacana, mas ocuparia muito espaço. Não vai rolar.

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Como as passagens aéreas andam caras e a minha ansiedade é meio séria, tive a sacada de mandar coisinhas diferentes para os parentes por meio das visitas que recebo. Abaixo está uma conversa minha no msn com o meu sobrinho. Vê só como eu acertei:

Marcos Schulz , diz:
o Dé
meu pai mando agradece pela manteiga
ele adoro
ele poe junto com pimenta
e come todo dia
LKMASDKMASDLKMA
Débora diz:
hahahahahahahah
ele já conhecia?
Marcos Schulz , diz:
não
:
:D
Débora diz:
que bom!
Marcos Schulz , diz:
ele adoro
nao deixa ninguem chegar perto do vidro
pq vai que quebra
alskmdlaksmdlakmsd
Débora diz:
diz pra ele procurar umas receitas na internet. essa manteiga é bastante usada no nordeste!
Marcos Schulz , diz:
tá :D
Débora diz:
se ele gostou, é porque é bom mesmo!
Marcos Schulz , diz:
bah
ele adoro
ele poe uns pedaço de pimenta
que ele tem
com a manteiga
e meche
dai ele bota
em tudo que é comiga
comida
até no arroz
alskmdalskmd
Débora diz:
tô morrendo de rir!!!!!!!!!
e tu gostou do guaraná jesus?
Marcos Schulz , diz:
asdlkamsdlkmasdlmalskmdlaksmdlakmsdlkamsdlkmasldkmasldkmasldkm
nem provei ainda
nao tive coragem
Débora diz:
hahahahahaha
dá medo, né?
mas tu viu que é da Coca-Cola?
esse guaraná é tri famoso no maranhão
Marcos Schulz , diz:
sun :D
não
eu to com pena
to em duvida se eu tomo
ou boto
de enfeite
lkamsdlkamsd
Débora diz:
ah, toma e guarda a lata
Marcos Schulz , diz:
é mesmo :P
Débora diz:
ah, diz pro junior que a mateiga fica muito boa com aipim cozido
Marcos Schulz , diz:
tá :D
ele vai gosta
pq ama aipim
alskmd
Débora diz:
hahahahhahaha
Marcos Schulz , diz:

haha
Débora diz:
sempre vou mandar alguma coisa de comer para o gordinho. aí não tem erro. :P
Marcos Schulz , diz:
:P:P:P

Para quem nunca viu, aqui está o visú do Guaraná Jesus.


ME-DO!

domingo, 4 de abril de 2010

Cada cidade com a sua alma (ou Porto Alegre me dói)

Houve um tempo em que Brasília era para mim a cidade onde surgiu a Legião Urbana, e Porto Alegre a cidade onde eu ia ao médico, comprava roupas e buscava eventualmente um parente no aeroporto. Tempo distante esse, por sinal.

Falo disso porque há uma semana estive em Porto Alegre para visitar a família – participei das comemorações do aniversário da minha irmã, matei um pouco a saudade do meu apartamento de paredes coloridas, coloquei os espirros em dia devido à umidade de sempre – e chorei. Chorei copiosamente. Chorei como nunca. Chorei com mais alma do que em qualquer outra ocasião.

Comecei a virar um drama ambulante quando dirigi sozinha pelos bairros nos quais costumava beber cerveja barata ouvindo as melhores histórias/opiniões/julgamentos vindos de amigos de valor incalculável; quando cruzei as ruas nas quais deixei histórias de amor mal-resolvidas, bem resolvidas e as nunca realizadas; o posto de gasolina onde buscava cerveja quando chegava do trabalho sem sono; a esquina que não gostava de cruzar porque temia encontrar aquele ex que ficou lá atrás. Pedacinhos de mim naquele asfalto de baixa qualidade que os porto-alegrenses conhecem bem.

Porto alegre virou a minha cidade quando eu tinha 20 anos e dividia um JK no Bom Fim com a minha irmã. Não, não é meu objetivo mostrar como a minha vida é feita de histórias de superação. A frase que inicia este parágrafo é para dizer que a vida não era perfeita, mas tinha um pouquinho de felicidade em quase tudo (principalmente no Xis da Lancheria do Parque e no petit gateau da Cronk’s).

Na capital federal, onde moro há quase 1 ano, o asfalto é perfeito, outdoors são proibidos e o clima seco me poupa dos 127 espirros diários que eu dava no Rio Grande do Sul. Não há felicidade em quase tudo, mas há conforto, trânsito suportável, segurança, muito sol e um céu azul que parece ter sido desenhado pelo Oscar Niemeyer.

Para o Renato Russo, Brasília foi cenário dos primeiros amores, desamores e acordes. Para mim, é a cidade onde eu trabalho, onde enfim tenho fins de semana dedicados ao ócio. Nunca será Porto Alegre, nunca terá domingos ensolarados de inverno, com cheiro de churrasco ao meio-dia. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E o consolo possível, por ora, é o seguinte: eu também não tenho mais 20 anos.