Produção de tevê é uma atividade ingrata. E como se o ritmo insano do ano inteiro não bastasse, quando dezembro se aproxima é hora de pensar nos programas de balanço: retrospectivas e perspectivas. Momento em que nós, os pobres produtores do Brasil, ligamos geral, insistentemente, loucamente e, nos casos mais críticos, agressivamente, para as assessorias de imprensa de gente realmente importante, tentando agendar entrevistas. Como se todos os outros veículos não estivessem fazendo o mesmo. O problema de começar a pensar em programas de balanço no final de outubro é que, em meio à correria jornalística nossa de cada dia, passa-se a fazer um balanço mental da vida.
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2009 foi o ano em que eu precisei criar uma vida nova em uma cidade nova, fazer novos amigos e novas inimizades, comprar panelas novas para um apartamento nem tão novo e que não é meu. Foi o ano em que adquiri um fogão de uma boca, porque outro não caberia na cozinha, e fiquei incrivelmente feliz com isso. O ano em que tentei morar com outras pessoas e a aventura durou três semanas. Porque constatei que andar pela casa de camiseta surrada e calcinha a qualquer hora é fundamental, custe os mais de R$ 1 mil que custar.
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2009 foi o ano em que deixei de ser tão barbeira, em que incorporei à minha programação de fim de semana idas ao posto de gasolina para lavar o carro. Em que aprendi a fazer “tesourinha”, a organizar o cérebro, geograficamente falando, tendo como base ‘Asa Norte’ e ‘Asa Sul’. O ano em que voltei a ter noites livres e sábados e domingos e feriados, em que andei mais de avião do que gostaria. O primeiro ano em que, enfim, precisei declarar Imposto de Renda. 2009 teve dinheiro no bolso. Pouco, mas teve.
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2009 foi o ano em que aprendi o que é saudade, bem como manda o clichê, tomando chimarrão e lendo a Zero Hora pela internet no domingo de manhã. Aprendi ainda que saudade só serve para fazer a gente beber mais, comer mais, comprar mais, dizer mais besteiras via Skype e cozinhar menos. Saudade deixa todo mundo meio louco. Nos faz contar a vida para estranhos, falar demais no ambiente de trabalho, fazer planos detalhados para férias que virão sabe-se lá quando. Inverno que não tem frio. Verão chuvoso. No lugar da estufa, umidificador de ar. A vida agora é no Cerrado.
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Nos programas de tevê (e nos jornais também, lógico), os especialistas fazem o balanço do que passou nos últimos 12 meses e, ao final, projetam 2010: como a economia deverá se comportar, quais assuntos virão à tona em um ano de eleições, Dilma isso, Serra aquilo. Mas se tem uma coisa que eu não consigo imaginar é como estará a vida no próximo ano. De repente mudo de casa de novo. Ou não. Talvez conheça a Bahia. Ou Pernambuco. Pode ser que eu veja menos ainda as pessoas que gosto. E é por isso que, quando estivermos juntas, vou viver tudo como se fosse a última vez. Para depois morrer de saudade.
Seja bem-vindo, 2010.
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