terça-feira, 8 de setembro de 2009

A segunda vez que te conheci

Ela acordou tarde num sábado frio como tantos outros. Vestiu uma camiseta velha dele. Como havia feito tantas vezes. Como achou que nunca mais faria. E caminhou sonolenta até o banheiro, os pés delicados acariciando o carpete. Queria ajeitar os cabelos e escovar os dentes. Que horas já são? Sempre era mais tarde do que imaginava. Ele surgiu também sonolento, como a conferir o que ela estava fazendo. Ela o ignorou. Como sempre, mostrou concentração. Mostrava concentração até na hora de levantar e escovar os dentes. Fingia sempre saber o que estava fazendo. Só que desta vez a escova vermelha com a qual ele a presenteou na primeira vez que amanheceram juntos não estava mais sobre a pia. Ela não entendeu. Franziu a testa. Não quis entender. Também não quis perguntar. Sabia a resposta. Mas acabou perguntando, porque não conseguiu ser forte nem coerente. Nunca conseguiu ser coerente. Nunca quis.

- Tu jogou a minha escova de dentes no lixo?

Indagou baixinho, aquela voz doce. E ficou ali parada, quase com frio, olhos de cachorro com fome, aguardando um “sim” carregado de mágoa que não veio.

- Usa a minha.

Um comentário: