Ela acordou tarde num sábado frio como tantos outros. Vestiu uma camiseta velha dele. Como havia feito tantas vezes. Como achou que nunca mais faria. E caminhou sonolenta até o banheiro, os pés delicados acariciando o carpete. Queria ajeitar os cabelos e escovar os dentes. Que horas já são? Sempre era mais tarde do que imaginava. Ele surgiu também sonolento, como a conferir o que ela estava fazendo. Ela o ignorou. Como sempre, mostrou concentração. Mostrava concentração até na hora de levantar e escovar os dentes. Fingia sempre saber o que estava fazendo. Só que desta vez a escova vermelha com a qual ele a presenteou na primeira vez que amanheceram juntos não estava mais sobre a pia. Ela não entendeu. Franziu a testa. Não quis entender. Também não quis perguntar. Sabia a resposta. Mas acabou perguntando, porque não conseguiu ser forte nem coerente. Nunca conseguiu ser coerente. Nunca quis.
- Tu jogou a minha escova de dentes no lixo?
Indagou baixinho, aquela voz doce. E ficou ali parada, quase com frio, olhos de cachorro com fome, aguardando um “sim” carregado de mágoa que não veio.
- Usa a minha.
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Forte. É por essas que eu disse que nao podiamos ficar sem te ler.
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