domingo, 13 de setembro de 2009
Elas partiram
Solteira expatriada. A grande JP cunhou o termo e eu não me canso de reproduzi-lo por aí, quase sempre a choramingar. Com a competência de sempre, ela escreveu sobre o que nos une. E eu penso no texto de JP toda vez que vivo algo excepcional ou trivial e não há com quem compartilhar. Porque as solteiras expatriadas são, quase sempre, as únicas testemunhas do seu próprio fracasso, sucesso, desespero ou alegria. Não há palmas, não há conselhos-olho-no-olho, não há ombro, não há chá para a gripe, não há feijão da mãe nem churrasco do pai. E ninguém te busca no trabalho quando chove. É aprender a ser só ou aprender a ser só, como explicarei a seguir:
A meta maior das solteiras expatriadas é desenvolver a habilidade de não fazer drama toda vez que precisarem tomar decisões importantes sozinhas. Elas sabem como faz falta uma opinião amiga na hora de alugar um apartamento em vez de outro, de escolher a cor do sofá, de comprar panelas de vidro ou inox , de pintar o cabelo ou só dar uma repicada.
Bem que elas iam gostar se aquele homem, ele mesmo, escolhesse qual o melhor seguro para o carro, providenciasse a revisão, a troca do óleo, a proibisse de torrar o salário com roupas e cremes – porque as solteiras expatriadas são muito mais suscetíveis a estourar o cartão de crédito, infelizmente – e, principalmente, que ele a abraçasse sempre que ela começasse a chorar por um motivo fútil. Só que, em meio a tantos devaneios, a realidade grita: aquele homem está longe.
As solteiras expatriadas investem em paixões que todo mundo sabe que não vão dar em nada. Investem em amizades que todo mundo sabe que não vão dar em nada. Em noitadas que não valem a ressaca. E a explicação possível é justa: precisam seguir vivendo, bem ou mal. Do jeito que dá. No fim elas acabam se divertindo, absorvendo o lado enriquecedor das experiências, selecionando melhor o que serve e o que não serve. Porque são expatriadas mas não são bobas. Graças a Deus.
Essas moças são entusiastas da evolução tecnológica. E enquanto aguardam ansiosas o advento do teletransporte, se contentam com palavras doces ou rudes trocadas pelo Skype, expressões faciais quadriculadas, tão familiares, vistas através da webcam. Choram ao telefone, escrevem cartas que nunca serão enviadas. Sentem falta de pessoas com as quais conviveram tão pouco. Sentem falta até de Tramandaí, veja você.
As solteiras expatriadas passam grande parte do tempo pensando se cada dia vivido longe da família está valendo a pena. E espantam tal pensamento garantindo a si mesmas que sim, ora bolas, pois no futuro colherão os frutos de tanta dedicação ao trabalho, à carreira, ao compromisso que firmaram com o sonho de uma vida cheia de experiências que preencham a alma, e na qual a palavra estabilidade não faz o mínimo sentido. Na verdade, elas queriam ter tudo-junto-ao-mesmo-tempo: segurança e aventura, afeto e um bom emprego, dinheiro e paz de espírito. Pena que não dá.
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Um brinde às que partiram.
ResponderExcluirAcabo de descobrir que eu também já fui uma solteira expatriada.
ResponderExcluirBrilhante e verídico o teu texto.
ResponderExcluirDolorosas descobertas de uma vida que há de valer a pena... Pode crer!