segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Porque certos e-mails merecem ser publicados

Eu disse que me sentia culpada por fazê-la torrar grana com passagens aéreas. Relação eterna esta das mulheres com a culpa. Ela disse que isso era besteira e me escreveu o e-mail mais bonito. Falou tudo, da melhor maneira, em modestas quatro linhas:

“Minha filha,

Não há dinheiro que pague a tua presença junto da tua família.

Isto não é gasto, é investimento em saúde física, mental e afetiva.

Beijinho, Mamita”.

sábado, 24 de outubro de 2009

Lago

Se pudesse escolher ficaria ali, naquele trapiche, olhando as estrelas, até perder a hora. Até que o sol nascesse e a expulsasse daquela cama improvisada a céu aberto. Ficaria ali até que a fome se impusesse. Até que alguém lhe chamasse. Até que o telefone tocasse. Se pudesse escolher ficaria ali, naquele trapiche, ouvindo o barulho da água batendo. Até que uma conversa qualquer lhe trouxesse de volta ao mundo, que uma lancha de um magnata lhe roubasse a concentração, que um vaga-lume lhe lembrasse que a vida não parou. Se pudesse escolher ficaria ali, naquele trapiche, olhando as estrelas. E só.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Agora é diferente

Agora eu entendo a importância de o carro ter um rádio que funcione.
Agora eu entendo como é caro ter carro.
E como é bom ir trabalhar de carro.
E voltar pra casa ouvindo música. No som do carro.

Agora eu entendo como faz falta homem e vinho num sábado à noite.
Agora eu entendo a falta que faz aquele homem na minha cama.
E na minha vida. No momento em que eu esquento a água para o chimarrão.
No domingo de manhã, quando é hora de comprar o jornal. E de ler o jornal.
Porque ler o jornal junto no domingo de manhã é uma das coisas mais preciosas da vida.

Agora eu entendo quem gosta de Fórmula 1.
Agora eu entendo quem não gosta de ler. Mas ainda não consigo perdoar.
Agora eu entendo um pouco de economia. Mas ainda acho tudo muito chato.
Agora eu entendo quem não cozinha.

Agora eu penso em comprar um apartamento.
Em não jogar uma montanha de dinheiro no lixo pagando aluguel.
Agora eu penso em como estará a minha vida daqui a cinco anos.
Tento planejar. Tento executar.
Não há mais quem resolva os problemas por mim.
Agora é comigo.

Agora eu penso que bom mesmo teria sido nascer sabendo.
Porque entender demora. E aprender com os erros é uma chatice.
Perde-se tempo, afeto, dinheiro.
Perde-se oportunidades. Horas de sonos. Perde-se a paz.

Talvez em cinco anos eu entenda quem decide ter filhos.
Quem larga tudo em nome do amor.
Quem passa uma vida acreditando que o ser humano muda para melhor.

Talvez eu saia por aí dizendo: agora é diferente.
Com propriedade. Com verdade. Com convicção.
Sem a impressão de ter decidido colar-me ao molde, vestir o uniforme, dançar no compasso.
Porque agora sou eu que determino o compasso.
Demorou. Aprendi. E agora é comigo.