domingo, 13 de dezembro de 2009

Um dia a gente assumiu o Natal



Nos primórdios da minha existência, o Natal era comemorado todos os anos, sem exceção, na casa do vô e da vó. A família toda comparecia, as mães levavam os quitutes que haviam preparado e nós, as crianças, brincávamos em frente à casa - que tinha um gramado lindo - à espera do Papai Noel. Porque sempre tinha Papai Noel. Invariavelmente, o meu primo mais velho estragava o momento mágico revelando que o bom velhinho, na verdade, era um dos nossos tios. Isso atrapalhava, mas não fazia com que o frio na barriga, a euforia e a alegria sem fim que eu sentia naquele momento sumissem. O Natal na casa do vô e da vó era exatamente como tinha que ser.

Só que em 1996, sem que ninguém esperasse, sem que ninguém estivesse preparado, um infarto fulminante tirou a vó do nosso convívio. E a vó era a pessoa mais doce, mais calma, mais amorosa. Não parecia, mas era quem propiciava tal integração. A partir daí, ficou parecendo que era pecado dar festas familiares, mesmo no Natal, e se divertir. A nossa tradicional comemoração de fim de ano foi definhando até se transformar em uma janta burocrática a qual ninguém fazia muita questão de comparecer. Nem eu.

A festa ficou sem destino fixo, já que ninguém se sentia confortável em oferecer a casa. Um ano era na residência de um, outro ano na residência de outro. E o evento não tinha mais cara. Até que as crianças cresceram. E revolucionaram o Natal familiar. Em um ano nós interferimos fortemente no cardápio. No outro, decoramos a casa – da minha mãe, que passou a ser o QG. Um dos primos mais novos começou a fazer as vezes de Papai Noel, com competência extraordinária. Por fim, implantamos o que viria a ser a ser a grande atração da festa: o clericot.

Na primeira edição decidimos solicitar uma garrafa de champagne por família. Adivinha? O clericot acabou antes da meia-noite. A ala conservadora era contra pedir duas garrafas por família no ano seguinte, alegando que o nascimento de Jesus não combinava com “beberagem”. Batemos pé, afinal de contas, o clericot é, até hoje, o responsável por estimular as melhores risadas, as dancinhas fora de hora puxadas pelas tias (acredite), as declarações de amor ou ódio na hora da revelação do amigo-secreto. Nada mais justo do que oferecer clericot aos convivas até o amanhecer, vamos combinar.

Este ano a festa se viu ameaçada, quando uma das organizadoras-chave - modéstia à parte - partiu. Mas a notícia boa é que, com a ajuda dos deuses, de um chefe caridoso e das companhias aéreas, ela estará em Guaíba no dia 24 de dezembro, para influenciar na escolha da sobremesa, no número de champagnes a serem arrecadadas, na roupa que a mãe irá vestir – porque a mãe definitivamente não tem talento para a moda. E para matar a saudade. Ela já imagina as mulheres todas de cabelo escovado e roupa nova, assuntos mil para atualizar. Os homens desleixados, como sempre. E o clericot potencializando as emoções, na noite mais mágica do ano.

Meus queridos: tô chegando!

Ah, antes que eu esqueça: cinco champagnes por família, ok?
(brincadeira)

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